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Mostrando postagens de março, 2020

O regime da verdade de Bolsonaro

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                              Por Leo Pessoa            Na última terça-feira (24/03), o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido, sem escrúpulos, sem noção, sem condições de ser presidente) fez um pronunciamento televisivo no qual atacou as ações de isolamento para o combate ao coronavírus. Sua agressão verbal não ficou restrita às medidas de isolamento. Elas foram direcionadas aos governadores que estão tomando providências baseados em evidências científicas para a contenção da Covid-19.             Muitos analistas se assombram creditando seus ataques à ciência. Não. Bolsonaro ataca a quem for de encontro com o seu regime de verdade. Regime este que, obviamente, está completamente concatenado com seus interesses particulares e autoritaristas de se perpetuar no cargo onde está até, no mínimo, 2026. A ciência, tal como a mídia, para ele, são apenas obstáculos de enfrentamento para colocar seus interesses acima de tudo e de todos.             Afinal, qual é o

A suspensão da realidade

Por Leo Pessoa         A realidade está em suspensão. Ou aquilo que entendíamos como real foi amplamente abalado. Tudo, ou quase tudo, que nos colocava no modo piloto automático, nossas rotinas, hábitos e costumes estão em desatino. A ordem social está sendo transformada, bem como nossa vida cotidiana e a nossa psicologia. Esse é um dos rastros que está sendo deixado pela hecatombe de codinome coronavírus.            A suspensão pode ser caracterizada pela ruptura com a atitude que consideramos habitual, ou seja, por uma mudança radical no tipo de atenção que o sujeito presta ao mundo vivido. Como a realidade anterior está em suspensão, dessa maneira ela está, assim como algumas partículas, pairando pelo ar. Ar esse, invisível e permanente, que nos apavora. Usamos máscaras para não respirar o mesmo ar que os outros, afinal o vírus contamina pelas vias aéreas. Para mostrar como a realidade que estávamos vivendo está suspensa, estamos alterando a maneira pela qual respiramos, an

Coronavírus e a distopia cotidiana

Por Leo Pessoa Vinte dias após o primeiro caso diagnosticado no Brasil, pouco mais de setenta dias do primeiro caso informado para a OMS, o Covid-19, ou o popular coronavírus, ainda não tem vacina. Natural, vacinas são produções científicas. Não são de simples invenção. É necessário tempo. Em tempos nos quais alguns dos principais governantes do mundo são inimigos da ciência, as vacinas, para serem produzidas precisam de investimento. Investimento esse que tem sido feito em larga escala pela arte. Quem leu Margaret Atwood, Conto da Aia e Testamentos , assistiu Black Mirror ou Years and Years, pode reivindicar o direito de estar vacinado. Não contra o vírus. Mas imunizado, ao menos, para entender os contextos surreais de nosso tempo. Tudo indica que ainda não estamos diante de um apocalipse. É apenas um ensaio distópico. Dizem que nossa realidade é distópica. Porém não estou certo de que o adjetivo “distópica” é necessário para acompanhar a palavra realidade. Soa redundante. P

Palavra-corpo

Por Leo Pessoa As palavras são corpos. Corpos com formas e sons. Nossos olhos podem tocá-las em uma leitura atenta, ou apressada, ou funcional, ou desleixada, ou todas juntas. Aos nossos ouvidos, elas podem nos tocar e nos levar para outros lugares. Pense: uma palavra pode elevar ou rebaixar uma transa. O simples ato de escutar uma palavra pode nos levar para um passado remoto. Outro dia ouvi de minha própria boca o som da palavra abafabanca . E, como num passe de mágica, no mesmo momento, estava no quintal da casa de minha avó, em minha infância, quando criança, sentido o sabor gelado do leite com abacate em pedras de gelo durante as tardes quentes das férias.   Essas são as palavras. Poderosas. E, mesmo tentando nos esquivar, elas se impõem. Decodificá-las, em um país tão desigual, pode ser um privilégio. Saber usar então... Muitas são simples e,   basta ler ou ouvir, para entender seus significados. Outras são escorregadias, capazes de nos enganar se articuladas de maneira m