Uma imagem, uma politica e uma poética da cidade


Por Leo Pessoa 

Essa é uma lindeza de imagem de uma criança fantasiada sorrindo, mas como toda imagem, exibe mais do que o aparente estático

A vida humana, urbana é, por excelência, gregária, da mistura entre as pessoas. O urbano, sobretudo em seus espaços abertos, públicos é o solo do anonimato. É o chão da possibilidade, do desencontro ou mesmo do encontro com o outro que eu não selecionei para encontrar. 

Esse outro, de idade, raça, gênero, classe social das mais diversas é um outro ao qual, de algum modo,  confiro atenção, com um olhar, com um cumprimento, com um conversar. 

Essa é a busca. Busca pela experiência urbana da alteridade, de encontrar o outro, de se ver no outro, de ser o outro.

Vocês viram um casal de velhos caminhando atrás de Bela na imagem? Pois é. Me vi neles daqui a alguns anos. Eles olharam, nos cumprimentaram e iniciaram uma conversa conosco. Já havíamos nos encontrado outras vezes mas pela primeira vez a prosa se fez presente. E que conversa. Gosto de ouvir mais velhos, suas sabedorias, histórias ou mesmo suas contradições. Quero chegar lá, nessa idade, vivendo a cidade, encontrando o outro, sendo ouvido por outras gerações, sentindo o mundo.

A condição efêmera do encontro é o pulsar do cotidiano que envolve o demorar-se. Esse demorar-se do pensar em si, no outro, nas coisas, na cidade, no comum, na comunalidade ou sua ausência na vida coletiva.

Viver em bolhas isoladas é um ato essencialmente aniturbano. E é só lá fora, longe do exclusivo,  perto do espaço de todos que somos urbanos, pessoas a habitar política e poeticamente a cidade.

Comentários

  1. Que imagem! E que reflexão necessária, ainda mais em tempos em que temos sido tão privados de sair ao ar livre, de encontrar com outros. Que seja uma oportunidade para repensarmos nossa relação com a cidade, sobretudo com os espaços públicos da cidade.

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