Zé Janela e Dona Rua
Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa. Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência. Pablo Neruda Por Leo Pessoa Dias turvos. Esplendorosas manhãs, de repente, nuvens. Dias se eternizam em noites num piscar de olhos. A janela é abertura, encaminha a observação da luz/penumbra que chega até o corpo. Há sempre uma sensação estranha, nesse movimento nos últimos dias. Trabalhadores levantavam mais um edifício do chão, mas não chegou a arranhar o céu. Não estão mais lá. Os barulhentos dias letivos, as sirenes das escolas. Não mais ecoam. Caminhantes passavam pela rua, uns do lado dos outros em uma prosa que percorria itinerários acústicos, em suas cerimônias coletivas de peregrinação ao trabalho. Hoje passam isolados, com suas vestimentas de boca e nariz que evidenciam olhares desconfi...