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Crônica do não carnaval

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Por Leo Pessoa Uma das manias do saber sistematizado moderno é, a qualquer custo, explicar o inexplicável. Nós não damos a César o que é de César? Deveríamos fazer o mesmo com o mistério. Dar ao mistério o que é do mistério e pronto acabou. Deixa lá e não mexe. Nosso saber é tão arrogante ao ponto de, se algo nos surpreende, ficamos irritados e buscamos logo provar que, se está acontecendo agora, aconteceu antes.   Aqui, nessas breves linhas, serei um exemplo desse saber arrogante. Estou surpreso e irritado não pelo acontecimento, mas pelo não acontecimento. Estou indignado pelas forças da natureza que nos tiraram o carnaval. O ser microscópico assinou um contrato terrível com as ausências. Por essa ausência tão sentida, fui recorrer à Dona História pra ver se ela me acalmava como um rivotril, apenas para mostrar que não tivemos carnaval em algum momento e, de alguma maneira, isso estaria escondido em alguma sequência genética a ser desvendada, esperando apenas se manifestar para m...

Esporte Clube Bahia: 90 anos entre manchas e espinhos

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  Por Leo Pessoa  "O  futebol é uma das minhas referências para olhar o mundo” disse o escritor-professor Luiz Antônio Simas. Acrescento que a cidade, a miudeza do cotidiano e o outro são alguns dos meus pontos de contato com a vida mundana. Não dá para olhar para o futebol desvinculado dessas outras referências. Talvez, justamente por esse fato, uma parte da classe média nacional não apenas não gosta do futebol, mas acredita ser algo menor e um traço totalmente fútil da sociedade. Essa classe média pouco se importa com a cidade, com a miudeza do cotidiano, com outro. Naturalmente ela dá de costas para o futebol.   Dando as costas a essa classe média, vamos escrever sobre futebol. Dia 01 de Janeiro se tornou especial para mim e para mais de 4 milhões de torcedores. Nessa mesma data em 1931, jogadores que foram despejados do Bahiano de Tennis e da o Athlética fundaram o Sport Club Bahia conforme grafia da época.  Antes, esses mesmos atletas quase não ficam p...

A arapuca dos negacionistas

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 Por Leandro Pessoa Em um inquérito policial, a verdade foi chamada para depor. Após horas de questionamentos a verdade não teve outra escolha a não ser ocultar-se. Não revelou muita coisa. Na verdade, não revelou nada. Os agentes, assim, fizeram o que seu nome sugere: agiram. Com métodos nada ortodoxos perguntaram quem era seu dono.   A verdade respondeu após a tortura que ninguém possuía sua tutela. Aniquilaram a verdade. E em seu lugar colocaram uma imitação barata para se passar por ela, um clone.     A verdade não é apenas uma palavra que esta sendo maltratada. Ela está sendo sepultada. A verdade é definida pelos processos de conhecer e investigar. Entretanto, hoje, o imperativo da verdade não é outra coisa senão a negação radical da realidade. A verdade está sendo definida pela ameaça, pela força bruta. Não é uma história nova. Nosso país foi edificado negando a violência contra o seu povo, negando o racismo, negando a tortura, negando as suas raízes. Se ante...

Quem são seus influencers?

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 Por Leo Pessoa Meus principais influenciadores são meus familiares, amigos e suas influências normalmente acontecem em encontros presenciais. Contarei duas histórias para confirmar essa afirmação. A primeira aconteceu em Fevereiro deste ano quando estive em uma celebração de aniversário e encontrei alguns amigos. Nas conversas sobre o mundo tecnológico atual, um amigo me indicou o livro Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política, escrito pelo bielorruso Evgeny Morozov. Adquiri a obra e me identifiquei muito com as ideias sobre os reais impactos da tecnologia em nossas vidas nos âmbitos cultural, social, econômico e comportamental. Não irei aqui fazer uma resenha sobre o livro, mas uma das coisas mais contundentes que Morozov aborda é sobre o fato de sermos produtos do atual domínio feudal que as quatro principais empresas de tecnologia do mundo, a saber : Google, Facebook, Apple e Amazon nos condiciona e como elas loteiam alguns dos mais valiosos momentos de nossa...

A habilidade para responder: sobre o retorno da Escola

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Reprodução UOL Por Leo Pessoa A palavra responsabilidade, em sua etimologia e sentido significa a habilidade para responder por nossas próprias ações, pelas ações dos outros e por coisas que nos são confiadas. Na vida em comunidade e democrática as responsabilidades são diferenciadas, mas todos temos responsabilidades nas ações que envolvem a vida coletiva.   Em uma democracia representativa um presidente possui uma responsabilidade maior porque suas ações possuem impactos materiais e simbólicos na vida das pessoas. Crises econômicas, sanitárias, morais, ambientais, dentre outras, devem ser conduzidas pelo poder executivo em suas emergências. No Brasil a ausência de respostas do presidente está escancarada, apesar da última pesquisa do Datafolha indicar o contrário na opinião pública nacional. Em uma regulação política de nossos problemas, começamos a inverter os papéis e a cobrar mais responsabilidades de quem, em uma emergência, possui responsabilidades, mas sem dúvidas,...

O outro, esse inferno!

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Imagem por https://www.flickr.com/people/69061470@N05 - https://www.flickr.com/photos/government_press_office/6470403371/, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=37461801     Por Leo Pessoa      Em uma entrevista a Sean Penn, Charles Bukowski disse uma celebre frase que é replicada aos quatro cantos: “ Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar .” Nossa experiência de mundo é o fundamento básico daquilo que pensamos, dizemos, teorizamos. Por isso, eu posso dizer para Old Buk: você nunca viveu uma pandemia.             Não resta dúvida. Num futuro não muito distante haverá um tipo de pergunta que será mais um dos indicadores do acúmulo de experiências de vida. Questionamentos do tipo: " você já viajou para quantos países? " ou " quantos filhos você criou ?" ou ainda " quais livros você já leu? " e " por quantos períodos de gue...

Negro eu sou, índio eu sou, diz aí quem é você

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             Mainha e painho no dia do casamento deles, em 1978 Por Leo Pessoa      Em Março de 2015, uma camisetaria de Juiz de Fora, Minas Gerais, me convidou para participar de uma campanha publicitária para o dia do consumidor. A peça tinha como objetivo, além de aumentar as vendas, estabelecer um nome específico ao consumidor da camisetaria. O slogan da peça era Não ao dia do consumidor . Baseado nas minhas fotos do Facebook eles fizeram uma arte. Nessa arte havia uma imagem que me representava. Quando observei a arte, fiquei uma tanto quanto chocado. Estava representado como negro.   Arte da camisetaria             Apesar de, desde sempre, ter sido chamado de moreno, até então, em nenhum momento da minha vida, havia me enxergado como negro. Mantive contato com as pessoas que criaram a arte e elas eram brancas.  Na infância quando criança...