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Perambular é um convite à permanência

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  As atividades de movimento no urbano, como o caminhar, se tornam mais possíveis e interessantes quando há espaços para parar e ficar por um determinado tempo. Mobiliários urbanos presentes na cidade podem nos convidar à pausa, à permanência, à habitação dos espaços abertos. Paradas mais longas ao ar livre são fundamentais para a existência de cidades vivas.   Os bancos são alguns dos exemplos de mobiliários que nos convidam a parar. Diante de uma vista atraente, os assentos servem para sentir o lugar, ver e ouvir uma paisagem, observar o movimento, contemplar os acontecimentos, ou apenas para dar uma parada e recuperar o fôlego, seguindo adiante. Contudo, na hora de projetar e implantar esses mobiliários, é necessário pensar em alguns elementos, como conforto, clima e materiais. Na imagem acima, por exemplo, é possível observar diversos bancos feitos em granito, em uma área onde quase não há sombra ao longo do dia. O que era para ser um convite à permanência, se torna u...

Uma imagem, uma politica e uma poética da cidade

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Por Leo Pessoa  Essa é uma lindeza de imagem de uma criança fantasiada sorrindo, mas como toda imagem, exibe mais do que o aparente estático A vida humana, urbana é, por excelência, gregária, da mistura entre as pessoas. O urbano, sobretudo em seus espaços abertos, públicos é o solo do anonimato. É o chão da possibilidade, do desencontro ou mesmo do encontro com o outro que eu não selecionei para encontrar.  Esse outro, de idade, raça, gênero, classe social das mais diversas é um outro ao qual, de algum modo,  confiro atenção, com um olhar, com um cumprimento, com um conversar.  Essa é a busca. Busca pela experiência urbana da alteridade, de encontrar o outro, de se ver no outro, de ser o outro. Vocês viram um casal de velhos caminhando atrás de Bela na imagem? Pois é. Me vi neles daqui a alguns anos. Eles olharam, nos cumprimentaram e iniciaram uma conversa conosco. Já havíamos nos encontrado outras vezes mas pela primeira vez a prosa se fez presente. E que conversa...

A Dança da Morte ou uma resenha sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente

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    Coletivamente, temos dificuldade de enxergar quem somos, onde estamos e para onde estamos indo. Porém, se pautarmos a nossa relação com aquilo que chamamos de natureza ou meio ambiente, essa desorientação se esvai. Possuímos um mandato sobre a Terra, em um período que os geólogos denominaram Antropoceno. As características do nosso mandato são: florestas devastadas para criar faixas de terras cultiváveis para a produção de soja e outros cultivos estéreis; queima de combustíveis fósseis em escala interminável afetando o clima em todas as partes do globo; escassez de água potável; sistemas de produção, distribuição e consumo que ampliam cada vez mais a desigualdade, concentrando riqueza nos bolsos de poucos e distribuindo pobreza e fome para muitos; essa mesma produção aplica lixos tóxicos nos solos e oceanos; pandemias e outros eventos catastróficos atuando e deixando rastros de destruição. Portanto, somos o desastre, estamos no desastre, indo para outros iminentes de...

Crônica do não carnaval

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Por Leo Pessoa Uma das manias do saber sistematizado moderno é, a qualquer custo, explicar o inexplicável. Nós não damos a César o que é de César? Deveríamos fazer o mesmo com o mistério. Dar ao mistério o que é do mistério e pronto acabou. Deixa lá e não mexe. Nosso saber é tão arrogante ao ponto de, se algo nos surpreende, ficamos irritados e buscamos logo provar que, se está acontecendo agora, aconteceu antes.   Aqui, nessas breves linhas, serei um exemplo desse saber arrogante. Estou surpreso e irritado não pelo acontecimento, mas pelo não acontecimento. Estou indignado pelas forças da natureza que nos tiraram o carnaval. O ser microscópico assinou um contrato terrível com as ausências. Por essa ausência tão sentida, fui recorrer à Dona História pra ver se ela me acalmava como um rivotril, apenas para mostrar que não tivemos carnaval em algum momento e, de alguma maneira, isso estaria escondido em alguma sequência genética a ser desvendada, esperando apenas se manifestar para m...

Esporte Clube Bahia: 90 anos entre manchas e espinhos

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  Por Leo Pessoa  "O  futebol é uma das minhas referências para olhar o mundo” disse o escritor-professor Luiz Antônio Simas. Acrescento que a cidade, a miudeza do cotidiano e o outro são alguns dos meus pontos de contato com a vida mundana. Não dá para olhar para o futebol desvinculado dessas outras referências. Talvez, justamente por esse fato, uma parte da classe média nacional não apenas não gosta do futebol, mas acredita ser algo menor e um traço totalmente fútil da sociedade. Essa classe média pouco se importa com a cidade, com a miudeza do cotidiano, com outro. Naturalmente ela dá de costas para o futebol.   Dando as costas a essa classe média, vamos escrever sobre futebol. Dia 01 de Janeiro se tornou especial para mim e para mais de 4 milhões de torcedores. Nessa mesma data em 1931, jogadores que foram despejados do Bahiano de Tennis e da o Athlética fundaram o Sport Club Bahia conforme grafia da época.  Antes, esses mesmos atletas quase não ficam p...

A arapuca dos negacionistas

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 Por Leandro Pessoa Em um inquérito policial, a verdade foi chamada para depor. Após horas de questionamentos a verdade não teve outra escolha a não ser ocultar-se. Não revelou muita coisa. Na verdade, não revelou nada. Os agentes, assim, fizeram o que seu nome sugere: agiram. Com métodos nada ortodoxos perguntaram quem era seu dono.   A verdade respondeu após a tortura que ninguém possuía sua tutela. Aniquilaram a verdade. E em seu lugar colocaram uma imitação barata para se passar por ela, um clone.     A verdade não é apenas uma palavra que esta sendo maltratada. Ela está sendo sepultada. A verdade é definida pelos processos de conhecer e investigar. Entretanto, hoje, o imperativo da verdade não é outra coisa senão a negação radical da realidade. A verdade está sendo definida pela ameaça, pela força bruta. Não é uma história nova. Nosso país foi edificado negando a violência contra o seu povo, negando o racismo, negando a tortura, negando as suas raízes. Se ante...

Quem são seus influencers?

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 Por Leo Pessoa Meus principais influenciadores são meus familiares, amigos e suas influências normalmente acontecem em encontros presenciais. Contarei duas histórias para confirmar essa afirmação. A primeira aconteceu em Fevereiro deste ano quando estive em uma celebração de aniversário e encontrei alguns amigos. Nas conversas sobre o mundo tecnológico atual, um amigo me indicou o livro Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política, escrito pelo bielorruso Evgeny Morozov. Adquiri a obra e me identifiquei muito com as ideias sobre os reais impactos da tecnologia em nossas vidas nos âmbitos cultural, social, econômico e comportamental. Não irei aqui fazer uma resenha sobre o livro, mas uma das coisas mais contundentes que Morozov aborda é sobre o fato de sermos produtos do atual domínio feudal que as quatro principais empresas de tecnologia do mundo, a saber : Google, Facebook, Apple e Amazon nos condiciona e como elas loteiam alguns dos mais valiosos momentos de nossa...